Personalidade talvez seja o constructo psicológico mais discutido entre o público leigo, mas que ainda é fonte de grande questionamento no campo científico, principalmente em relação à sua definição. Porém, em termos gerais, podemos resumir a personalidade como um padrão comportamental e atitudinal de um indivíduo, tendendo a ser constante ao longo de sua vida.

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Dentre os modelos de personalidade mais difundidos cientificamente está o Big five ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade. Para o modelo, um tipo de personalidade seria um conjunto de cinco traços que se comportam de forma específica.
Sabendo disso, podemos prever ou mesmo explicar comportamentos de indivíduos com base na magnitude e orientação desses traços.
Para o modelo dos Cinco Grandes Fatores, há cinco traços que definem nossa personalidade:

  • Amabilidade: Tendência que reflete a flexibilidade, confiabilidade, cooperatividade e tolerância de um indivíduo. Muitos podem perceber uma pessoa amável como aquela pessoa de “bom coração”, por exemplo.
  • Abertura a novos caminhos: Esse traço reflete curiosidade, criatividade e sensibilidade tanto artística quanto emocionalmente. Uma pessoa aberta a mudanças está sempre em busca de novas experiências.
  • Conscienciosidade: Extensão da personalidade que abarca características como organização, persistência e consistência entre ações. Pessoas com altos níveis de Conscienciosidade possuem grande motivação em alcançar objetivos e geralmente são consideradas  responsáveis e dignas de confiança.
  • Neuroticismo: Traço que permeia alto grau de ansiedade, descontentamento com a vida, melancolia e experienciação negativa de eventos.
  • Extrovertismo: É talvez o traço mais intuitivo para o público leigo, pois explica a quantidade e intensidade das interações interpessoais, além da necessidade de estimulação externa. Pessoas extrovertidas são geralmente energéticas. Já as introvertidas são tímidas e reservadas.

Podemos utilizar uma medida de personalidade para saber se um indivíduo é adequado a um cargo específico, mas também para saber a receptividade deste a uma determinada propaganda ou produto, como prever a sua preferência a um vinho doce ou seco(Saliba, Wragg & Richardson, 2009), por exemplo. Ou seja, saber sobre sua personalidade pode  dizer muito sobre você.
Mas dentro do contexto das redes sociais, será que ter uma grande interação social e um grande número de amigos no Facebook pode lhe dizer algo sobre a sua personalidade?
Os pesquisadores Bachrach, Kosinski, Graepel, Kohli e Stillwell mostram que sim. Eles descobriram, por exemplo, que o nível de extroversão de uma pessoa pode predizer comportamentos futuros na mídia social tal como o número de vezes em que esta pessoa atualiza seu status.
Outra pesquisa, por exemplo, afirma que pessoas nas redes sociais que aparentam apreciar o trabalho de Nicki Minaj são, em geral, muito mais extrovertidas do que pessoas que gostam de ler Voltaire(Kosinski, 2014). Além disso, pessoas com altos níveis de amabilidade tendem a curtir mais páginas religiosas, enquanto aqueles com baixos níveis tendem a curtir Nietzsche e páginas sobre ateísmo.
O dendograma abaixo expõe a relação entre o traço de abertura à mudança com a preferência por uma determinada banda ou artista. Quanto mais próximo da cor Ciano, menos aberto a novas experiências seria o indivíduo, enquanto a proximidade à cor magenta indicaria o contrário. Além disso, quanto mais próximo os caminhos entre duas bandas ou dois artistas, maior é a sobreposição de suas audiências.

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Embora ainda seja possível questionar se o comportamento de pessoas em redes sociais, como o Facebook, realmente reflletem a personalidade real de um indivíduo, Back e colaboradores (2010) mostraram em um estudo,  com 236 usuários, que estes não utilizam suas redes sociais para promoverem identidades idealizadas e que expressam suas publicações de acordo com seu perfil comportamental real, sem se passarem por alguém que consideram “melhores” ou mais “interessantes” do que si. Para completar os resultados, Youyoua, Kosinski e Stillwella (2014) concluíram que computadores que possuem acesso de 200 a 250 likes de uma conta no Facebook predizem melhor a personalidade de uma pessoa do que seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

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O site Apply Magic Sauce, do centro de Psicometria da Universidade de Cambridge, tenta resgatar seus traços de personalidade baseado em suas atividades no facebook ou no twitter. Confira!

Referências
Bachrach, Y., Kosinski, M., Graepel, T., Kohli, P., & Stillwell, D. (2012). Personality and patterns of Facebook usage. In Proceedings of the 4th Annual ACM Web Science Conference(pp. 24-32). ACM.
Back, M. D., Stopfer, J. M., Vazire, S., Gaddis, S., Schmukle, S. C., Egloff, B., & Gosling, S. D. (2010). Facebook profiles reflect actual personality, not self-idealization. Psychological science21(3), 372-374.
Kosinski, M. (2014). Measurement and prediction of individual and group differences in the digital environment. Department of Psychology University of Cambridge.
Youyou, W., Kosinski, M., & Stillwell, D. (2015). Computer-based personality judgments are more accurate than those made by humans. Proceedings of the National Academy of Sciences, 112(4), 1036-1040.
Saliba, A. J., Wragg, K., & Richardson, P. (2009). Sweet taste preference and personality traits using a white wine. Food Quality and Preference, 20(8), 572-575.